Este artigo foi integralmente reproduzido da Revista do Provão 2000, p.p. 45, 46.

Química, Cada Vez Mais a Favor da Vida 

Atire a primeira pedra quem nunca associou a palavra "química" a sensações como intoxicação e envenenamento. Ou a imagens como as das chaminés de indústrias consideradas inconvenientes e perigosas, aos agrotóxicos, aos remédios amargos, aos ácidos de grande poder de destruição. Sem contar a morte de rios e nascentes, a poluição da terra, do mar e do ar, enfim, a agressão ao meio ambiente e, conseqüentemente, ao anunciado fim da espécie humana.

A mínima recordação indesejável que vinha à cabeça, era daquele professor feio e carrancudo da época do segundo grau a exigir que a sala toda soubesse na ponta da língua a Tabela Periódica. Ou, como diz a letra da música "Química", de Renato Russo, sobre as dificuldades do jovem que vai entrar na faculdade e tem que enfrentar o vestibular, entre os estudantes a frase que se ouvia era uma só: "Eu odeio Química!".

Depois dos "sustos" provocados pelos primeiros contatos com a matéria nos bancos escolares, a situação começou a se inverter. Hoje em dia, é consenso, tanto entre estudantes e pesquisadores quanto em grande parcela da população, que a vida é cada vez mais dependente da Química, para se manter e para progredir.

Sucedem-se os exemplos no que se refere ao meio ambiente, por exemplo - para limpar toda a sujeira que já foi feita, despoluir o planeta e alcançar qualidade de vida, a Química tem ganho papel preponderante. 

Transformação - O professor Jaílson Bittencourt de Andrade, 48 anos, conselheiro da Sociedade Brasileira de Química e Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), costuma dizer que não é a Química que agride a vida, mas sim o uso inadequado dela. Ele ensina: "se a Química é a ciência da transformação, essa transformação tem que acontecer em benefício da humanidade". E foi a partir da segunda metade deste século, que já está acabando, que se verificou maior conscientização e responsabilidade na manipulação dos produtos químicos. Atualmente, lembra o professor, o objetivo é o de direcionar os estudos e pesquisas para a busca de uma vida com menor quantidade de riscos.

Na Copene (Petroquímica do Nordeste S/A), a principal e maior empresa do Pólo Petroquímico de Camaçari, localizado a pouco mais de 60 quilômetros de Salvador, o diretor Marco Antônio Ferreira Ebert, um engenheiro químico de 54 anos, admite que a Química "ainda mete medo".

No entanto, ele está certo de que, para a humanidade, a Química tem trazido "mais benefícios que eventuais problemas". E alerta que os riscos são inerentes, sem esconder que em uma indústria - mesmo as de menor porte - a apreensão é contínua. Mas tranqüiliza, ao informar que atualmente os mecanismos de proteção são bem maiores. Na parte analítica, especialmente, o desenvolvimento foi considerável, a ponto de hoje ser possível fazer trabalhos, inclusive simular reações, no computador. 

Controle - Com a experiência de quem é mestre em Química pela Universidade de Berkeley, Califórnia (EUA), Irundi Sampaio Edelweiss, 58 anos, diretor da Deten, outra importante empresa do Pólo Petroquímico de Camaçari, concorda que os riscos de contaminação e acidentes existem. E também vê mais segurança nas atuais condições operacionais.

Segundo ele, no começo, as indústrias se descuidaram das questões ambientais: "Hoje, no entanto, esse é um aspecto sob controle". O mestre destaca a significativa evolução em vários aspectos, como nos materiais, nas técnicas de inspeção, na fabricação de equipamentos, na tecnologia de processos e sobretudo no controle da poluição. Esses avanços, assegura Irundi Edelweiss, tornam os riscos "menos preocupantes".

Quanto a isso, o professor titular do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Antônio Celso Spínola Costa, 69 anos, não tem a menor dúvida. Depois de 49 anos dedicados à química, ele conta que todo esse progresso começou no fim da década de 50, mais precisamente a partir da tragédia da baía de Minamata, no Japão, onde primeiro se ouviu falar em "maré vermelha". Os químicos, então, se tornaram mais conscientes com relação aos riscos. E não desanimaram.

O professor Spínola Costa costuma dizer que "o mundo é Química; o homem sempre conviveu com a Química, que estuda a matéria e como ela pode ser modificada". 

Fatia do Mercado - Defensor do Exame Nacional de Cursos que o Ministério da Educação promove desde 1996, o professor Antônio Spínola Costa diz que muitas escolas privadas - "de conteúdo e credibilidade duvidosos" - têm alcançado conceituações máximas graças a alguns artifícios, nem sempre visando ao aperfeiçoamento do ensino, como era de se esperar.

Na realidade, diz o professor, essas escolas particulares, com o intuito de conquistar a credibilidade perante a sociedade e, assim, atrair a cada dia novos alunos, "passam a jogar pesado em um tipo de preparação do corpo discente voltada essencialmente para o Provão". Ele compara o verdadeiro "rush" por bons conceitos aos cursos de pré-vestibular, onde "pelo menos é mais declarada a guerra para definir quem fica com a maior fatia do mercado".

Ele alerta, com orgulho, para a qualidade do que é ensinado nas universidades oficiais. E lamenta que alguns dos estudantes destas instituições ainda ressintam da falta de uma orientação mais precisa da avaliação dos cursos. "Isto tem feito diferença e é um quadro que precisa mudar. Mas estamos apenas no quinto ano do Provão e acredito que a tendência é de aperfeiçoamento, sempre", comenta, esperançoso.

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