Quanto à alquimia na Índia, o que ocorreu foi algo muito semelhante ao que houve na China. A civilização hindu foi precedida por uma cultura neolítica, no vale do rio Indus, semelhante às do vale do Nilo e da Mesopotâmia. Também, como estas últimas, evolui para uma civilização mítica. Nessa desenvolveu-se, semelhantemente às outras, técnicas mágico-míticas que essencialmente não diferem daquelas das outras civilizações de mesmo caráter.
Na Índia, entre os anos de 1500 e 1000 a.C., surge uma literatura que reúne mitos orais. São os Vedas e os grandes épicos hindus. Até que, por volta do ano 600 a.C., aparece, como nas outras civilizações, uma "sabedoria" que se expressa pela reflexão sobre a "realidade última" e a "verdade". Então a meditação toma primazia sobre o ritual. Com isso aparecem o budismo e o jainismo, enquanto que o hinduísmo passa a expressar-se na forma da sabedoria dos Upanixades. É, no "tempo-eixo", quando a mitologia cede lugar à sabedoria.
A agricultura, a metalurgia e a forjaria, a medicina e a arquitetura hindus tinham caráter mítico, todas elas ligadas à magia, à mântica, à paleomatemática e à astrologia. Eram atividades que surgiram em passado remoto, trazidas pelos deuses ao homem e, portanto, deviam ser consideradas sagradas e secretas, somente transmitidas de geração a geração pelos mestres aos aprendizes. Pois bem, a alquimia surge, na Índia, tal como nas outras civilizações, como interpretação sapiencial dessas paleotécnicas. Foram sábios budistas os que se aproximaram dos mineiros, ferreiros e médicos hidus arcaicos, a fim de interpretar seus processos, à suz da sabedoria budista. Há vários textos budistas, de entre o segundo e o quinto séculos de nossa era, que mencionam a transmutação dos metais e minerais em ouro. Falam, também, de uma solução (elixir) que transforma bronze em ouro puro.
Entretanto, antes disso já havia, na Índia, a transmutação dos metais em ouro. As primeiras menções sobre tal técnica mágica são dos séculos IV e III a.C. O Célebre manual de como governar, o Arthasastra, de cerca do ano 300 a.C., menciona tais práticas. Mas, textos nitidamente alquímicos - com técnicas de transmutação associadas à doutrina salvífica budista - são tardios.
Portanto, o que faz crer é que, como na China, a alquimia surge de um lento confronto entre técnicas mágicas preexistentes e a sabedoria budista. Isso se dá entre o terceiro ou quarto século, antes de Cristo, e o segundo ou terceiro de nossa era. Mas a alquimia hindu ligou-se à ioga de tal forma que - como no tratado chinês do Segredo da Flor de Ouro - as transmutações tanto poderiam ocorrer nos fornos e vasos alquímicos, como no próprio corpo do alquimista. O princípio fundamental da alquimia está aqui presente: "como o corpo humano, os metais podem ser purificados e divinizados por operações que lhes comunicam virtudes salvíficas".
Ao contrário do que muitas vezes é repetido, não se pode aceitar que a alquimia hindu dependa da árabe. Esta última chegou à Índia, com Jabir ibn Hayyan, pelo ano 760 de nossa era, quando a alquimia hindu já estava completamente desenvolvida, tanto como técnica ou mágica como sapiência. Tanto uma como outra eram já encontradas na época da invasão muçulmana, no meio dos ascetas e iogues e foram pouco afetadas pela influência islâmica. Desta forma pode-se falar de uma alquimia árabe na Índia, após a invasão muçulmana, mas não de qualquer dependência árabe da alquimia hindu.
Na Mesopotâmia algo de semelhante, apesar de anterior, aconteceu - mutuatis mutandis - ao que ocorreu na China e na Índia. A agricultura e a cerâmica apareceram ali, com o neolítico, já cerca de 8000 anos antes de Cristo, de origens nitidamente mágicas. Ali mesmo tem origem a história, como a civilização mítica suméria, cerca do ano 3000 a.C.; porém as técnicas mágico-míticas e o início da paleomatemática e da astrologia já estavam presentes. A Suméria evolui para civilizações ainda míticas, na Babilônia, ao sul, e a Assíria, ao norte. Contudo, no sexto século antes de Cristo aparecem, ao nordeste, os medas que viriam a dar origem ao império persa. Entrementes a Mesopotâmia, inclusive a Babilônia e a Assíria, submeteu-se a um império ariano: o dos caldeus. Em 538 a.C. tal império caldaico é subjugado por Ciro ao poder persa. Com essa conquista a Mesopotâmia vem a ser dominada pela sabedoria persa de Zoroastro (c628-557 a.C.). É então quese torna possível uma alquimia, como interpretação sapiencial das antigas técnicas mágico-míticas de extração da terra e transmutação dos metais. Entre essas técnicas arcaicas mesopotâmicas estão, por exemplo, as das ligas metálicas em proporções especificadas, como é o caso do bronze.
Estabelece-se, portanto, também na Mesopotâmia e no mesmo século VI a.C. o "tempo-eixo" quando aparece o Avesta, pelo qual Ahura Mazda (o Sábio Senhor) escolhe Zaratustra para trazer aos homens a palavra sobre a unidade e a verdade. Isso traz aos povos da região o monoteísmo, a preocupação com o que seria verdadeiro, as práticas de meditação e do que veio a caracterizar as civilizações sapienciais pós-míticas, tanto no Ocidente como no Oriente. Nota-se que é, desta mesma época e de região próxima, a sabedoria judaica dos profetas bíblicos. Somente depois do advento de tais sabedorias é que os caldeus e, também os judeus, puderam interpretar mitos e magias em base de princípios únicos, tidos como verdadeiros, associando-se com a astrologia, a astronomia, a paleomatemática e a numerologia. Daí a origem da correlação entre os astros e a obra alquímica que veio a dominar desde então. Por outro lado, a heliolatria e o culto do fogo zoroastriano trouxeram a importância do fogo nas operações alquímicas. A isso se deve juntar o princípio sapiencial da unidade entre o organismo humano e o cosmo. Aliás, tudo isso decorre da interpretação sapiencial de antigo mito caldeu, no qual se conta que a morte e o desmembramento do homem primordial engendrou os metais no seio da terra, segundo conjugação dos astros no céu.