A evolução da Química Orgânica
trouxe o nascimento de muitas indústrias importantes. Um exemplo
é a indústria de explosivos. Considera-se como explosiva
toda substância capaz de se decompor rapidamente, com expansão
súbita de gases e grande liberação de energia. Do
ponto de vista químico, é interessante notar que a grande
maioria dos explosivos modernos são substâncias orgânicas
que contém o elemento nitrogênio.
No século IX, os chineses inventaram a pólvora,
que é uma mistura de aproximadamente 65% de salitre (NaNO3),
20% de carvão e 15% de enxofre, em massa. Inicialmente, eles a usavam
apenas para produzir fogos de artifício.
Foi provavelmente o alemão Berthold Schawtz (1310
- 1384) quem inventou o canhão, trazendo a pólvora para as
operações bélicas.
Apesar de várias melhorias, como a substituição
da pólvora pulverulenta pela pólvora granulada em 1425, pode-se
dizer que a pólvora foi o único explosivo eficiente de que
a Humanidade dispôs durante vários séculos.
Em 1838 começa a era moderna dos explosivos, quando
o químico francês Théophile Jules Pelouse (1807-1867)
conseguiu preparar a nitrocelulose. Em 1846, o químico alemão
Christian Shönbein verificou que a celulose nitrada é altamente
explosiva. A celulose é um polímero natural, cuja estrutura
é a repetição da unidade C6H10O5;
em cada uma dessas unidades existem três hidroxilas que podem ser
esterificadas; o ácido nítrico pode esterificar uma, duas
ou três das hidroxilas, produzindo vários tipos de nitrocelulose,
cujo caráter inflamável e explosivo aumenta com o teor de
nitrogênio na molécula.
Em 1847, o químico italiano Ascanio Sobrero (1812-1888)
preparou a nitroglicerina, a partir da glicerina, que é um subproduto
abundante da fabricação do sabão. Ele verificou então
que a nitroglicerina é um líquido que explode com extrema
facilidade por aquecimento ou por um simples choque mecânico. A aplicação
desse explosivo retardou-se por vários anos, devido a explosões
violentas com mortes e ferimentos de pessoas que tentavam fabricar, estocar
e utilizar a nitroglicerina.
Finalmente, em 1867, o químico sueco Alfred Bernhard
Nobel conseguiu uma forma segura de usar a nitroglicerina ao inventar a
dinamite, que é uma mistura de 75% de nitroglicerina e 25% de terra
diatomácea (terra diatomácea, terra infusória ou
kieselguhr é um pó proveniente de algas unicelulares
que são providas de paredes silicosas). Na ocasião, Nobel
inventou também a espoleta de fulminato de mercúrio, Hg(ONC)2,
para provocar a explosão da dinamite. Com essas inovações,
a produção de nitroglicerina passou de 11 toneladas no ano
de 1867 para 1350 toneladas em 1872.
Alfred Bernhard Nobel nasceu em Estocolmo (Suécia)
em 1833 e faleceu em San Remo (Itália) em 1896. Seu pai era engenheiro,
inventor e se dedicava à fabricação de explosivos.
Como conseqüência de várias explosões, o pai de
Nobel perdeu alguns auxiliares, seu próprio filho mais novo e sua
fortuna. Perseguido em seu país, fugiu para a Rússia com
a família. Lá reconquistou a fortuna produzindo explosivos
para a guerra da Criméia e explorando petróleo no Cáucaso.
Com isso, o filho de Alfred Nobel conseguiu estudar na Rússia e
depois nos Estados Unidos e França, especializando-se em explosivos.
Após a invenção da dinamite em 1867,
Nobel inventou em 1875 a dinamite gelatinosa ou gelatina explosiva, que
é uma mistura de nitroglicerina, nitrocelulose, solventes e geléia
de petróleo. Na época o consumo de explosivos aumentou muito
devido à crescente construção de túneis, ferrovias,
etc. Com suas fábricas de explosivos, com os rendimentos de suas
patentes e com a exploração de petróleo na Rússia,
Nobel acumulou enorme fortuna. No final da vida, entristecido com o crescente
uso bélico dos explosivos que havia criado, deixou toda sua fortuna,
em testamento, para a Fundação Nobel, instituindo através
dela o Prêmio Nobel. Esse prêmio é concedido anualmente,
desde 1901, às pessoas que "trouxerem o maior benefício à
Humanidade nos campos da Física, Química, Medicina, Literatura
e da Paz Mundial" (a partir de 1969 foi acrescido o prêmio Nobel
de Economia).
No final da vida, sofrendo de angina e com vários
ataques cardíacos, Nobel foi medicado (ironia do destino) com
nitroglicerina,
que até hoje é usada como vasodilatador coronário.
No início do século XX, principalmente em
função da Primeira Guerra Mundial, foram inventados novos
e mais poderosos explosivos, como o TNT, o tretil e o RDX:
Infelizmente os explosivos são usados com todos
os tipos de armas civis e militares. O uso pacífico, porém,
é muito extenso: em pedreiras, na abertura de canais, na construção
de rodovias e ferrovias, no aprofundamento de portos e na prospecção
sísmica, etc.
Na pirotecnia, há os fogos de artifício
e os fogos de sinalização, empregados em buscas marítimas
ou terrestres. Na produção desses fogos sempre se utilizam
misturas de: oxidantes (nitratos, clorados, perclorados, peróxidos,
etc.); combustíveis (redutores) orgânicos ou inorgânicos,
como sulfetos, hidrocarbonetos, carboidratos, etc.; e substâncias
que produzem cores variadas, como compostos de cobre (azul), estrôncio
(vermelho), etc.
No Brasil, a maior quantidade de explosivos é produzida
pelo Exército. A fabricação ou importação
de explosivos por particulares é permitida somente com a autorização
do Ministério do Exército.